por Fabio Steinberg
Está na hora de denunciar o descaso com que o turismo é tratado no Brasil. O número de visitantes estrangeiros ao Brasil patina há décadas em 6 milhões. Diariamente perdemos espaço para uma concorrência competente dos destinos internacionais. No mundo do faz-de-contas oficial, não surgiu até agora uma única política pública relevante.
A novidade eterna do setor é a sucessão de ministros políticos inexperientes. E isto em uma indústria vital para a economia, mas tratada de forma amadora pelo governo federal e maioria dos Estados.
Que tal rever este modelo que deu errado? Bons exemplos internacionais não faltam. Basta comparar com Orlando, na Flórida. Em apenas quarenta anos, deixou de ser um laranjal cercado de pântanos com jacarés sonolentos para se tornar o principal destino dos Estados Unidos. Recebe anualmente 62 milhões de visitantes – ou seja, dez vezes mais que o Brasil.
O que Orlando tem de tão especial? Praia e mar? Não. Clima espetacular? Nem pensar, há lugares bem mais aprazíveis. Natureza é deslumbrante? Neca! Sem montanhas ou rios, seus jardins são em geral tão artificiais como em Las Vegas.
Então, o que deu certo? Orlando conta com um setor privado ativo que soube alavancar a decisão inicial de Walt Disney de ali criar um parque temático nos anos 70. Com isto, atraiu outros negócios associados a entretenimentos. Hoje, já consolidada como destino de lazer, negócios e convenções, a cidade conta com um poderoso aliado: a Visit Orlando. Trata-se de uma associação de turismo que mantém um contrato de prestação de serviços de marketing com o governo local. Sua missão é divulgar e vender a região. Para isto, é apoiada por 1.200 empresas que formam uma comunidade de hospitalidade de 500 mil pessoas – 25% da população – com resultados de 60 bilhões de dólares anuais.
O modelo bem-sucedido de Orlando impulsiona contínuos investimentos da iniciativa privada, como o recém-inaugurado complexo de entretenimento da empresa britânica Merlin, que inclui a hiper roda-gigante Orlando Eye, irmã gêmea da londrina.
Voltando ao Brasil, aproveitando o recente corte de 73% nas verbas, não seria o caso de fechar de vez as portas deste malfadado ministério do turismo? E que tal deixar que o setor se transforme em uma divisão do Ministério da Indústrria e Comércio, tratado com a prioridade que merece? E aproveitando o embalo, não é uma boa ideia fechar também inoperantes secretarias estaduais de turismo, a maioria hoje cabides de emprego, e entregar as atividades de marketing e promoção do turismo à iniciativa privada, através de bureaux de negócios e convenções?
O sucesso de Orlando, que não é único, demonstra que é o governo que depende da iniciativa privada, e não o contrário. Por isto, recomenda-se a empresários brasileiros do turismo que sofram de complexo de vira-lata que invertam a equação: deixem que o governo corra atrás, e não o contrário. Não seria o momento de cobrar das autoridades o que deveria ser sua verdadeira missão, que é desenvolver políticas públicas em prol do crescimento do setor, e não das carreiras políticas de seus dignitários?